"A música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido - se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias - a comunicação das almas."
Marcel Proust
"The Burning Red" é o nome do 3º álbum dos Machine Head, lançado em 1999, que roda à volta do tema da vida e da morte.
A música tem o mesmo nome e é, na minha opinião, um perfeito retrato de um turbilhão de emoções. Apela aos sentidos, aos sentimentos e a tudo o que em nós grita.
Sem os quais não teria chegado onde cheguei, não teria aprendido o que aprendi, não teria sentido o que senti, não teria vivido o que vivi, não teria crescido como cresci, não teria percebido o valor do que é ter um amigo e do potencial que todos nós temos juntos, não seria quem sou.
Uma parte fundamental da minha vida, o meu motor e um espelho de mim própria, são vocês.
Por muito longe que chegue, vocês conseguem sempre fazer-me dar mais um passo em frente.
"The XX", uma banda que ainda cheira a fresco, criada em 2005. O primeiro (e único até à data) álbum, "XX", foi lançado em 2009, gerando desde logo grande aceitação pelo mundo indie,principalmente o britânico.
Segundo consta, a banda gravou as suas músicas numa pequena garagem que fazia parte dos XL Studios, frequentemente à noite, o que poderá ter contribuído para a natureza soturna e meio sussurrante das canções. Não sei se acredito...
De qualquer modo, as músicas são dotadas de um inquestionável clima a que, de facto, poderíamos chamar noctívago, devido ao controlo dos vocalistas que nunca elevam a voz, e até de melodias simples e meio ensonadas. Talvez seja por isso que daqui se extraem músicas que depois são perfeitas para determinadas ocasiões mais pensativas, ou descansadas. Diferentes, como se quer.
"The XX" ganhou, em Setembro deste ano, o Mercury Prize, um prémio para o melhor álbum do Reino Unido e Irlanda. Uma banda que ainda fará correr tinta, num futuro próximo.
Esta banda multifacetada apresenta uma fusão de estilos que podem ir do dub até à bossa nova, passando pelo reggae e acid jazz, tudo numa mistura da qual resulta um feeling de lounge.
O álbum em que encontramos esta música chama-se "The Cosmic Game", lançado em 2005, e foi o álbum que serviu de rampa de lançamento dos Thievery para "higher grounds". A música em particular define uma crítica à política americana de guerra. Na sequência do vídeo anterior, mostra uma maneira completamente diferente de exprimir musicalmente uma ideia, dentro da mesma temática. A diversidade é, de facto, das melhores coisas arquitectadas para este mundo em geral, para o mundo musical em especial, e ainda para os Thievery em concreto, que encerram em si vários estilos, várias culturas, vários saberes. Algo de apreciar.
Pessoalmente, mais pelo que feeling que emana do que pela ideia subjacente...um grande som.
Dizem que esta música foi feita em protesto contra o militarismo americano. Mas à parte de todos os idealismos políticos que os membros da banda possam ter (e foi uma banda muito revolucionária da época), convenhamos...é uma boa desculpa para gritar a plenos pulmões! Às vezes também apetece.
Aaahhh...good old 90's...revolucionar por revolucionar.
Love it.
Fugindo um pouco aos meus gostos habituais, eis que surge Madonna.
Confesso que não sou grande apreciadora de pop, mas rendi-me a esta música. Uma verdadeira performer, Madonna proporciona espectáculos para não esquecer. O vídeo é impressionante, e mostra um pedaço daquilo que deve ser um concerto desta senhora. Para além disso aparece como uma boa ilustração de como as artes se complementam entre si: a música, o espectáculo visual, e a dança, como expressão corporal de sentimentos, perspectivas, estados de espírito e ideias.
A música pretende representar uma reunião interna de forças, para travar uma luta externa. Esta luta pode ser uma qualquer, mas no vídeo parece referir-se à das mulheres para a sua libertação, principalmente na generalidade dos países do Médio Oriente, forçadas a viver sob regras e princípios repressores da liberdade e dignidade humanas.
O pássaro simboliza a mulher e esta dançarina parece ter asas, numa dança muito simbólica.
A poderosa Lauryn Hill, e o seu albúm Unplugged, gravado nos estúdios da MTV em 2001.
Neste álbum há uma clara aposta na passagem de mensagens e ideias, na sua maioria de carácter reaccionário e de incentivo a uma redefinição de prioridades e de valores pelas pessoas. Esta aposta, no entanto, faz-se em detrimento do aspecto musical da coisa. Ou seja, deparamo-nos com canções de 6, 7, 8 minutos, com letras espectaculares, bem pensadas e incisivas, mas acompanhadas de melodias bastante repetitivas que rodam à volta de uma melodia base.
Não digo que esteja errado (afinal, não há errados nem certos), são apenas músicas com objectivos diferentes do que apenas "entreter". E o seu objectivo de dar ênfase às letras é conseguido, sendo que elas tocam bastante a quem se der ao trabalho de as perceber e interiorizar.
Aliás, no ínicio do concerto, as suas palavras são:
"These are brand new songs (...) very much about what i've been going through and what I've been learning. A lot of wonderful life lessons that aren't easy to come by, but you're very blessed after you realised why you had to go through what you had to go through. So, it's just very important that you listen to the words.(...)
I used to be a performer and I really don't consider myself so much as a performer no more, I'm sharing."
Um maior desenvolvimento musical, seria apenas a cereja no topo do bolo.
Esta música não é tão reaccionária como as outras deste álbum, parece-me mais como que uma oração.
Mas, lá está...interpretações pessoais.
Pig&Dan: uma dupla de Dj's constituída por Igor Tchkotoua e Dan Duncan.
O que mais gosto nesta dupla é o facto de eles não terem o mínimo receio de produzir músicas completamente diferentes do habitual, com paragens e arranques inesperados e até criando descontinuidades dentro da linha sequencial da música. Os próprios tons melódicos que usam são pintados de um certo dark side, meio incompreensível, o que acaba por tornar as suas músicas únicas e tudo menos repetitivas. Há uma forte exploração de novos estilos, de novas formas de criar...que no fim acaba por ser a forma de Pig&Dan.
No entanto, é normal que os ouvidos mais "treinados" para este estilo consigam apreciar mais facilmente algo assim. Esta música em particular até é das mais acessíveis, e também uma das melhores para mim. Mas basta pesquisar um pouco, e ouvir outras como "Deliverance", "Terminate", entre outras, para perceber do que falo. "Sly Detector" é cheia de energia, e vai escalando até ao um ponto em que mais vale deixar tudo para trás e entregar-nos ao momento sem mais. O videoclip é bonitinho, mas como acho que a música perde muito da sua complexidade e da sua história com o radioedit que foi feito (sim, porque as massas não aguentam músicas de 8 min...), fica aqui a full lenght. Temos pena.
Sem sombra de dúvida, uma das minhas absolut top favorite bands.
Dispatch, um grupo que prima pela qualidade e diversidade de estilos, que não se fica pelo superficial e dá profundidade a tudo o que faz. Que transmite um sentimento de bem com a vida, ou até de sabedoria perante ela. Quando actuam fazem questão de desenvolver as músicas de forma diferente da do álbum, dando sempre um cunho pessoal e até de inspiração momentânea às mesmas.
Usam a música não só como forma de expressão por si só, mas como uma plataforma que permite incorporar nela uma ideia poderosa, mesmo que se trate da mais simples coisa. Isto é conseguido pela expressão vocal, por uma utilização de instrumentos diferentes dos convencionais, pela interacção com diferentes artistas, por um aprofundamento de ideias pelas letras, e ao facto de deixarem um largo espaço para interpretação pessoal, permitindo-nos, de certa forma, criar um sentido de identidade com elas.
É impossível julgá-los por apenas uma música. É preciso ouvir cd's inteiros para se perceber a dimensão do que aqui falo, e o espírito que emana do seu conjunto.
Chamem-me parcial, quanto a esta banda é exactamente o que sou. Talvez pela presença constante já durante vários anos da minha vida, à qual associo muitos momentos.
Tive grande dificuldade em escolher uma música para postar, uma vez que tenho muitas favoritas. De qualquer forma, aqui fica a "Prince of Spades", do álbum ao vivo All Points Bulletin.
É longa mas vale bem a pena.
Com ritmos de jazz, Melody Gardot traz-nos soulfull musics com um toque de classe. Esta mulher envolta em mistério compõe e participa na produção das suas músicas, e ainda toca viola e piano, para além da voz hipnótica que tem.
Após ter perdido várias funções cerebrais, como a memória ou a simples capacidade de falar, devido a um acidente aos 19 anos, Melody agarrou-se à música como forma de desenvolvimento gradual e eventual reposição dessas mesmas funções.
Num documentário que vi sobre ela, veio dizer que começou com umas notas ocasionais na viola, enquanto tentava falar de novo, emitindo sons sem sentido, o que posteriormente veio a influenciar o "scat" que inclui nas suas músicas. Aos poucos e poucos superou a incapacidade de comunicação, melhorou outros aspectos e tornou-se aquilo que é hoje.
Uma história de luta e preserverança com o resultado de boa música.
PS- A imagem que se vê no video é a capa do álbum "My one and only thrill". Finalmente, um álbum em que a mulher não se despe e faz olhos de carneiro-mal-morto para ter atenção. Chama-se classe. Bem Haja!
Aí está, vinda direitinha de um álbum espectacular, o primeiro a solo de Eddie Vedder (vocalista dos Pearl Jam, para os mais incautos), chamado "Into the Wild". Serviu de banda sonora a um filme com o mesmo nome, que aconselho vivamente a toda a gente.
A música, e o álbum em geral, fala de uma libertação interior, duma procura pelas raízes e duma fuga dos padrões inconscientemente impostos pela sociedade, que desvirtuam a nossa essência. Uma descoberta própria que requer coragem e que passa necessariamente por momentos de sofrimento, mas da qual se extrai um grande fortalecimento.
É curta e simples e acaba em tom de algo que está para vir...no fundo, é o primeiro dia do resto da nossa vida.
Learning to breathe again
for the first time
In so long now
Learning to see again
through my pride
Learning to speak again
from my heart
Learning to be a friend
for the first time
for the first time
in so long
for so long ...
Feel like I'm losing time
when I worry
'cos yesterday won't change
Starting to free my mind
from the shadow of doubt
that keeps me in darkness
testing the air outside
my chamber
into the danger
pushing my limits high
to the red line and over
and why have i waited
so long
for so long
oh
why have I waited?
why have I waited, yeah
well it's hard to be happy
in a world that's so cruel
where the weak just get weaker
where the powerful feud
where the children go hungry
while the soldiers stand by
lay down your weapons
take hold of your lives
and when will we learn
that it's hate that breeds hate
only love is the cure
don't leave it too late
get up, and feel it
the truth that won't wait
if we choose to do nothing
then we take all the blame
Será que é preciso dizer muito mais? Este génio da composição deixa meio mundo voltado para ele. O vídeo é de um concerto dado em 2002, dirigido por ele mesmo, na Arena de Verona, em Verona, Itália.
A música em particular, "Ecstasy of Gold", serviu de banda sonora no filme "The Good, the Bad and the Ugly", de 1966. Foi usada concretamente numa cena de confronto do tipo "Mexican stand-off", como nos westerns, que ocorria no meio de um cemitério espanhol em forma de anfiteatro romano. O produtor Sergio Leone pediu a Morricone que soasse "like the corpses were laughing from inside their tombs".
E, de facto, o resultado arrepia.
Um dos casos mais enigmáticos com que me deparei ultimamente. Edward Sharpe é uma figura criada pelo vocalista da banda Ima Robot (Alex Ebert), que pretende simbolizar a salvação da mente humana, embora passe o tempo a distrair-se com outras coisas.
Alex Ebert criou esta figura depois de uma série de maus acontecimentos na sua vida, pretendendo "to live in a more honest reaction to the truth of the moment, not be bound to certain behaviors by fear-based dogma".
Edward Sharpe quer trazer algo a este mundo enquanto luta com os seus conflitos interiores, e basta ver os video-clips de músicas como "Desert Song" para perceber que muita coisa se passa na cabeça deste homem. É assim com muitos de nós.
Não podia deixar de iniciar com uma música de infância, e com o nosso Zeca. Costumavam-me cantá-la em criança, e não era para me embalar, mas sempre achei que por trás devia estar algo de triste. De qualquer maneira...bonita como só o Zeca sabia fazer.
Retrato musical.
A música retrata-nos em todas as nossas dimensões, exprime o que nem sabemos para poder exprimir, fala-nos às vezes sem palavras. Se há pequenas magias na vida...esta deve ser uma delas.
Sem presunções, apenas uma partilha de músicas que gosto.